O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) convive, diariamente, com um dilema que pode custar vidas: a ignorância de quem encontra diversão em passar trote nos socorristas. Na média de janeiro a março deste ano, o Samu de Maringá recebeu seis trotes por dia.
Levantamento obtido pelo jornal O Diário revela que esse cenário piorou nos últimos 24 meses. No primeiro trimestre deste ano, o Samu de Maringá recebeu 553 trotes, 164 a mais do que no mesmo período de 2015 – uma preocupante alta de 42,2% .
Das 19.673 chamadas feitas ao Samu de Maringá no primeiro trimestre deste ano, 2,8% eram trotes. Na média, o percentual pode parecer baixo, porém, segundo o assessor administrativo do Samu, Eduardo Filipe Nunes, nos horários de pico dos trotes esse percentual chega a atingir 35%.
Por exemplo, quando Nunes passava à reportagem dados para esta matéria, o sistema do Samu apontava que 23% das 120 chamadas daquele momento eram de “brincadeiras irresponsáveis”.
Na prática, quanto mais trotes são passados, maior é o número de pessoas que correm o risco de ficar entre a vida e a morte à espera de atendimento. “A cada minuto de demora cai 10% a chance de sobrevivência em casos de perda de consciência e respiração”, explica Nunes.
O momento de maior alerta dos profissionais responsáveis pela triagem é das 17h às 19h, horário de saída dos alunos da escola. Segundo Nunes, o maior número de trotes parte de pré-adolescentes. “O problema é que parte deles é insistente, tornando a ligar. E sempre temos de atender, porque nada garante que da próxima vez não seja uma ocorrência real”.
A irresponsabilidade vai desde diálogos infantis – do tipo: “está pegando fogo no palito de fósforo” – a trotes bem elaborados, que acabam resultando no deslocamento de uma equipe do Samu ao local. “Você não imagina a nossa angústia quando isso acontece, porque, com certeza, isso custa vidas”, diz.
Desabafo
Condutor-socorrista desde a primeira turma de servidores do Samu, há 12 anos, Voune Ferreira Melo diz que o trote ainda é um dos grandes vilões do serviço, porém, ele diz que o cenário já foi bem pior. “Tínhamos mais trotes porque o Samu era algo novo e a população tinha uma consciência menor sobre a importância do serviço”, diz.
Ainda que a população saiba mais sobre o Samu do que há 12 anos, Nunes explica que falta compreensão da população sobre o risco que os trotes causam. “A gente precisa que as pessoas entendam a função do Samu, que é de salvar vidas”, diz.
No esforço para atenuar o problema, Nunes diz que o Núcleo de Educação Permanente (NEP) do Samu de Maringá tem trabalhado na capacitação de professores para que eles sejam multiplicadores na conscientização dos alunos. Segundo Melo, que é dirigente do Sismmar – sindicato que representa os servidores da categoria –, há a necessidade de mais recursos para ampliar a atuação do NEP.
Ocorrências
No mesmo período em que os trotes aumentaram 42,2% (comparação entre o primeiro trimestre de 2015 e 2017), as ocorrências tiveram alta de 108,7%, chegando a 19.673 entre janeiro e março deste ano. Desse total, foram 7.638 chamados apenas no mês passado.
Para executar o serviço, Maringá dispõe de quatro ambulâncias de suporte básico – uma para cada 100 mil habitantes, conforme preconiza o Ministério da Saúde. Mas como a cidade já superou os 400 mil habitantes, o Samu de Maringá reivindica o quinto veículo de suporte básico. Além disso, a cidade conta com mais três unidades avançadas e um helicóptero, que servem os dezenas de municípios na região.
Matéria produzida pelo Jornalista Luiz Fernando Cardoso do O Diário
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